Vivi Gonçalves é apaixonada por literatura, principalmente por poesia! Em 2011, criou um Blog chamado “Além do Tablado”, onde publicava crônicas e poemas de autoria própria, assim como textos reflexivos sobre assuntos cotidianos ou também livremente inspirados pelos assuntos abordados em espetáculos que estava realizando. Conheça este blog:
http://alemdotablado.blogspot.com.br/
Este espaço será uma continuidade do Blog “Além do Tablado”, há muito não atualizado. Conheça aqui o lado poético de Vivi Gonçalves. Poesia, esta, que muito inspira sua obra dramatúrgica.
Por trás da porta
Por traz da porta, a dúvida…
Devo ou não devo abrir?
Quero ou não quero seguir?
O caminho me convida
E já me sinto envolvida!
Mas temo em prosseguir…
Abri
A novidade fascina!
Me sinto, de novo, menina!
De coragem eu me cobri!
O vento por dentro me habita
Parece que leva e debita
de mim todo o medo que há!
Decido arriscar!
Entrei
No escuro procuro enxergar
o universo em que mergulhei
A verdade dos olhos, eu sei,
é rasa para aprofundar
a real imensidão desse mar
que se é límpido ou lama
não sei…
Só o tempo me responderá.
A verdade…
A verdade é que atrás da porta
certezas não hei de encontrar…
Caminhos de retas e tortas
são possíveis de se levar
onde sonha minha identidade!
A dúvida…
A dúvida aqui permanece
Porém, já não mais me adoece
Pois saber
se deveria manter
a porta muito bem fechada
com cadeado trancada
seria impossível adivinhar…
Seria preciso arriscar
pra essa certeza se ter…
Às vezes
é preciso ver para crer!
Vivi Gonçalves
Cuidado! Não chegue tão perto!
Dez metros…
O contorno revela tão pouco…
A imagem parece agradar…
Não sei bem se estou certo ou louco,
mas eu sinto que devo avançar…
Oito metros…
A visão me parece mais clara,
vejo os traços com mais precisão.
Estou diante de uma jóia rara,
é o que fala o meu coração…
Cinco metros…
Agora percebo as cores
tão claras a me convidar…
Eu preciso sentir os sabores
que parecem te habitar…
Três metros…
O seu cheiro me chama pra perto,
agora o escuro também posso ver.
Eu percebo um grande deserto
que por vezes revela seu ser…
Um metro…
Através dos seus olhos exergo
o avesso que, longe, não via…
Com a contradição eu me envergo,
mas não quebro pois isso eu previa…
Cheguei…
Te conheço por dentro e por fora
mesmo assim, resolvo ficar…
Não há mais como ir embora,
te aceito, pois isso é amar!
Vivi Gonçalves
Perder o Controle
Não tenho o controle de nada…
E esse querer ter
me aprisiona e pesa… Machuca…
Coração envolto em corrente de ferro…
Consciência aprisionada querendo voar…
Prisão de escolha própria?
Grades feitas da imensa complexidade que mora em mim…
Matéria prima? Matéria torta?
Matéria morta! Pois me faz morrer um pouco… A cada ilusão de estar no comando de tudo…
Ah se a vida tivesse um controle remoto…
Apertar os botões e ver
que tudo fica como deseja meu ser…
Mas ser é tão complexo… Não há manual de instrução…
O que há é um remoto controle de cada situação…
E cabe a mim a aceitação…
Para ser leve… Para ser livre… Para deixar livre e leve…
Tão difícil ser eu… Pode não parecer…
É… O que preciso mesmo é perder o controle…
Vivi Gonçalves
Corda Bamba
Na corda bamba em que me encontro
tento me equilibrar…
Entre tropeços e tantas quedas que pareciam certas,
mas que só conseguiram me arranhar,
Caminho…
E faço dessa corda uma ponte!
Ponte que me mostra o caminho!
Caminho certo…
Me equilibro e vejo
que a paz que procuro só depende de mim…
E sigo assim,
ao profundo universo incerto chamado eu…
Ah, se eu tivesse percebido antes
e tivesse coragem o bastante
pra entender que é de dentro pra fora
que precisa ser a mudança
que nunca quis como agora…
Ah, se eu soubesse antes…
Mas os passos que ficaram pra trás
já não me atrapalham mais…
Pois a vontade que hoje me move
por esta corda bamba chamada vida
É leve… devagar…
E sigo, sempre pra frente,
sempre pro alto…
Preparada para os futuros tropeços,
mas que, agora, já sei como lidar…
É… Não vai ser tão difícil de atravessar!
Vivi Gonçalves
Vazio
Basta você sair por aquela porta
que a saudade invade…
Por favor, não deixe mais nenhuma fresta…!
Inquietude
Os passarinhos que moram na minha cabeça
Hoje acordaram agitados demais…
Acho que querem me levar para as nuvens…
Vou?
Fui…
Cinza…
Hoje o dia acordou cinza…
Nem foi preciso pintá-lo…
Pudesse eu ter
um estojo Faber Castel
com todas as cores do mundo,
transformaria esse cinza imundo
num colorido em tons pastel…
Mas não tenho este poder…
Estranho é saber
que o dono dos lápis sou eu
mas meu direito agora morreu
e escolha não mais posso ter
pra pintar esse mundo que é meu…
A tristeza transborda dos olhos
numa lágrima azul perigosa
Os meus sonhos pintados de rosa
Desbotam enquanto me encolho
num canto tentando aceitar…
Mas se olhar
Se olhar, lá no fundo, verás…
Foi vermelho que o mundo acordou…
Cor de sangue ele se pintou…
E escorre um imenso regresso
Como um rio que derrama pra trás…
Na correnteza não me arremesso
Pois meus passos não andam pra trás…
Lemi
Sonho fosse cimento
Te faria reviver
Reto
Torto
Concreto
Bordado à mão
Uma réplica perfeita
Dessa imensidão que morava em ti
Profundidade mais escondida
Que tesouro buscado por navio pirata
Fazia poesia!
Será que alguém
Um dia
Fará poesia
Como Lemi fazia?
Sonho fosse concreto
Traria esse dia pra agora
Fim desse cimento
Bordado à mão
Imensidão que moraria num sorriso meu
A partir de agora
Brincando com o tempo…
Quisera eu ser filha do tempo
Ou ter com ele parentesco muito próximo
Para me deliciar na dança das horas…
Viajar nas estradas dos minutos…
Ou brincar de estátua dos segundos
Paralisar o instante
Um rebobinar incessante
E depois do adeus…
Avançar… Até voltar para os braços teus
Reviver os dias
Reprisar sorrisos
Instantes, alegrias, melodias
Que partem no tempo sem deixar avisos
Confesso que me irrito
Com esse “Deus” apressado
E que, por dentro, eu grito
Implorando-o voltar ao passado
E no instante seguinte
Quando não mais estou com você
Assemelho-me a um pedinte
Suplicando o momento de te ver
Ah, senhor tempo, se você soubesse
O tamanho do meu querer…
E, sabendo, não se arrependesse
De arrancar de mim um pedaço do meu ser…
Se conhecendo não voltasse atrás
Me devolvendo o que sempre foi meu
Permetindo-me estar sempre em paz
Fazendo voltar o que já aconteceu
Daí, então, eu desistiria
De tentar te amolecer
E, para sempre, sua prisão eu decretaria
Passado, presente e futuro eu roubaria de você!